Carlos Macena *
Se quiser, precisa, vou falar aqui umas coisas escalafobéticas e será motivo de alegria e alta distinção imaginar que olhos irão deslizar linhas abaixo. Dica sexy: só lendo até o fim, quando o III Reich entra no pau, se há de saber se as coisas acima referidas e abaixo debulhadas têm tudo a ver ou nem tisnam a hemorragia moral que encolhe o planeta a partir da Faixa de Gaza.
Portanto, te escuta: em 100.000 anos, rolaram 4.000 gerações da rapaziada, de “Lucy” na África, até o alpinista gelado dos Cárpatos. Desses 100 milênios, somente sobre os 25 últimos podemos dar qualquer pitaco minimamente cacifado, que me perdoem arqueólogos, paleontólogos, a turma do Carbono-14 e o fumarato de Heisenberg em “Breaking Bad”. Bora pegar a deixa e largar ao oblívio os 75.000 anos prévios, blz?
Aponta o lápis: meia metade dos 100.000 parametrizados valem 250 séculos. Ao agrupá-los em gerações, à razão mais que otimista de 4 por 1, com longevidade de 25 anos, chegamos a 1.000 ascendências e descendências. Homens e mulheres esparramados de Goa, o único enclave luso no Oceano Índico, ao Alasca e o Estreito de Behring, treta véia entre cossacos e ianques. Viventes nascidos entre Ushuaia, no Chile, a cidade mais austral da Terra, e Trondheim, no Piauí, capital mundial da aurora boreal. Por unanimidade, argentinos não entram na conta.
Agora bora jogar 85 dessas gerações na temporada d.C. Nesse ameno, encantador interlúdio, houve tanta guerra, do Somme a Dresden, de Cartago a Appomatox, do Congo-Belga à Terra Santa, que, sem nem conhecer mulher, ignotas legiões de godos, hunos, curdos, ciganos, bantos, zulus, apaches, kiowas, astecas, toltecas, tuaregues, waimiri-atroaris, krahan-kahores, tupis e nhambiquaras foram exterminadas a obus, forca, chicote ou baioneta calada. Tiremos esse contingente para tornar menos empíricos os cálculos feitos a mando de nossa tirânica mediana demográfica, nem por isso invalidável de plano, por razões adiante elencadas.
Esquecendo ia-me: passando a régua, bora chutar nas eliminatórias a.C. ancestrais 915 gerações mundo afora, rodando, umas mais outras menos, na mesma levada das 85 da turma pós-Jesus Christ. Todas com cada vez menos a partilhar, como pontificou o plutocrata Sir Rudyard Kipling (“Oriente e Ocidente jamais se encontrarão.”) Exceto por este megadetalhaço: dantes, como hoje, a China é quem ri de ruim, e por último. Foi a primeira a traficar pólvora, seda, sikhs, ópio, daí passando para o H1NI, mas deixa isso pra lá...
Parte II
Retomo a meada do fio de Ariadne, sílfide que tinha tanto Teseu e Ícaro na mente que Laocoonte, Píndaro e Fídias a encalacraram para sempre num labirinto em Cnossos - potoca mínima, relax, pra reler a Parte I, desalojar um Gatorade da geladeira, checar o WhatsApp e continuar, espero, assistindo à Netflix, digo, prestando atenção na catilinária.
Foram ao menos 1.000 gerações enrodilhadas, empilhadas e exaltadas antes de enterradas. Devemos a elas da bússola à penicilina, o Yakult e o Bubbaloo. Legaram-nos ícones não só de lazer e ilusionismo, como Ernest Hemingway, Marlon Brando, Jeca Tatu e Liv Tyler.
Só pra contrariar a incensada “Marcha da Insensatez”, da historiadora Barbara Tuchman, os passos à frente, não as quedas e tropeços da Humanidade, nos despertaram a gratidão por duas inequívocas e irretorquíveis provas de que Ele nos concedeu a permissão eterna para minerar e lapidar o Bem: o Acelerador de Hádrons do CERN, no coração da Europa, um colossal tubo circular eletromagnético de 22,4 km de extensão subterrânea de onde espera-se a antimatéria vá sair em pacotinhos de Natal, e o Telescópico Sideral Jack Webb, o primeiro artefato humano a orbitar o Sol, a 1,5 milhão de quilômetros, sempre sob o espectro gelado da sombra da Terra.
Tendo desentortada sua vertebral, e assim passado de caçador noturno a roceiro lesto, farto de roer carniça de hiena pra enganar a fome, assimilando tudo à sua volta e fornicando direito, com eficácia, eficiência e resiliência, mesmo entre tabefes e facadas, serenatas e bebês no bué, enfim, na “caminhada” do caravançarái humano, só podia dar no óbvio.
Sedimentou-se a capacidade ímpar entre mamíferos símios de fixar todo o observável à sua volta. Foi quando, diz a lenda, faiscou cabeça-chata adentro dum pioneiro Australopithecus, obviamente cearense, o que hoje enchemos o bocão para nomear tirocínio articulado.
Dele abusando com mérito, determinados grupos humanoides concatenarem mentes próximas entre si, ainda que de forma tosca e hesitante. Juntaram por dezenas de gerações impressões e ideias similares, até manifestar-se coletivamente o raciocínio, pai da Linguagem.
Após subverter Ashley Contagu, Émile Durkheim, Yuval Harari e Darcy Ribeiro numa tirada, arremato, descarado, com duas interrogações, não sem antes descartar um último devaneio: “Escapamos assim, nós, a gente do mundo, mesmo nossos ancestrais tendo sido trucidados pelos vizinhos, dizimados por pestes, calcinados nas chamas acesas para lustrar as vaidades doentias que as chancelavam?”
Hoje, Israel ruge. Sabe mortos seus reféns. O Knesset não vai parar até o último palestino ser metralhado de joelhos. Quer exterminar de autistas a anciãos. Há milênios, em vão, se esbatem com o mesmíssimo “gois” antissemitas nos cinco continentes.
Dito isso, cabe inquirir: o Estado de Israel está decidido a provar que, de fato, é tão vil e covarde como o III Reich?
CARLOS MACENA, 60, de Brasília (DF), é graduado pela USP (MTb 22.323/1989). Veio com a família para Rondônia em 1982, aos 18 anos, tendo residido em Vilhena, Cabixi, Pimenta Bueno, Ji-Paraná e Porto Velho. Em SP, foi assessor de imprensa da Brasfilter/Europa e repórter do Grupo Folhas e da Editora Abril. Em RO, foi administrador da Afiliada Globo em Vilhena, repórter de Política na Folha de Rondônia, chefe de reportagem no Diário da Amazônia, redator da NdA Comunicação e assessor de imprensa do Detran (Ivo Cassol), voltando ao Jornalismo depois de 12 anos como escriturário do Banco do Brasil em Limeira (SP).
Comentários: