Falta de ânimo para realizar tarefas cotidianas, problemas de memória e falta de força muscular podem ser sinais de algum distúrbio na glândula tireoide, responsável pela produção dos hormônios que ajudam a regular o metabolismo, a frequência cardíaca, a pressão arterial e a temperatura corporal. E, no caso das mulheres, é necessário prestar ainda mais atenção aos sintomas, pois o câncer de tireoide afeta majoritariamente pacientes do gênero feminino. O alerta foi dado por especialistas nesta segunda-feira, Dia Mundial de Combate ao Câncer.
Somente em 2024, são esperados 16.660 novos diagnósticos da doença no Brasil, sendo 14.160 entre mulheres e 2.500 entre homens, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). No Rio de Janeiro, dos 1.470 novos casos previstos, 1.260 vão afetar mulheres e apenas 210, homens, de acordo com a previsão.
O oncologista clínico Pedro De Marchi, líder nacional da especialidade de cabeça e pescoço da Oncoclínicas, diz que o papel dos hormônios sexuais no câncer está bem documentado nos casos de tumores de mama e de próstata, mas não há, no entanto, uma comprovação sobre o porquê de o câncer de tireoide acometer mais mulheres. O que se sabe é que pequenas alterações genéticas em certos receptores de estrogênios são identificados nos tumores localizados na glândula e poderiam ser um fator de risco para a doença.
O médico explica que o carcinoma papilífero, o subtipo histológico mais comum do câncer de tireoide, costuma ser pouco agressivo e geralmente acomete adultas em torno de 50 anos. Segundo o especialista, ele é, muitas vezes, assintomático e só é descoberto em exames de imagem, como ultrassom, tomografia ou ressonância magnética, que são solicitados por outros motivos.
Quando um nódulo na tireoide é identificado, é preciso avaliar suas características ao ultrassom, como composição (sólido ou cístico), ecogenicidade, forma, tamanho, regularidade das bordas e a presença de calcificações.
“Essas características vão definir a chance daquele nódulo ser maligno e vão ajudar o especialista a decidir se uma biópsia será necessária”, esclarece De Marchi, lembrando que em menos de 5% dos casos esses nódulos são, de fato, malignos.
Sintomas mais comuns
Muitas vezes, o diagnóstico só acontece quando um outro problema de saúde é investigado. Mas há sinais que devem servir de alerta para um possível câncer na glândula, como aparecimento de nódulos ou inchaço no pescoço, rouquidão, dificuldade de engolir ou respirar.
Outros sintomas comuns são sonolência excessiva e dificuldade de perder peso. Foram justamente eles, e uma irritabilidade fora do comum, que levaram a estudante Amanda Luiza Augusto da Silva a procurar um endocrinologista há cerca de quatro anos. Após alguns exames, incluindo uma ultrassonografia de tireoide, ela descobriu dois nódulos na glândula, um de cada lado. Ela, que tinha apenas 17 anos quando foi feito o diagnóstico, conta que levou um susto, mas que todo o tratamento foi muito rápido, o que diminuiu sua angústia.
“Foi assustador receber o diagnóstico de câncer ainda na adolescência. Fiquei bem apreensiva, mas passei a pesquisar e conversar com os médicos para entender todos os processos que eu iria passar. Logo após a descoberta dos nódulos, fui submetida a uma biópsia e, logo em seguida, fiz uma cirurgia para retirada da glândula. Não precisei fazer nenhum outro tipo de tratamento para o tumor, mas faço acompanhamento anual e reposição hormonal”, conta Amanda.
Fatores de risco
Existem poucos fatores comprovadamente relacionados a um maior risco de se desenvolver câncer de tireoide. O maior é a exposição prévia à radiação, principalmente em indivíduos tratados com radioterapia na região do pescoço durante a infância. Dietas pobres em iodo também podem contribuir para o surgimento da doença, assim como a hereditariedade.
“Quem tem histórico familiar, com parente em primeiro grau, diagnosticado com câncer de tireoide, tem mais predisposição de desenvolver a doença”, explica De Marchi.
Tratamento
Nem todos os cânceres de tireoide precisam ser tratados. Tumores pequenos, com histologias pouco agressivas, podem eventualmente ser acompanhados por profissionais qualificados.
“Quando há indicação de tratamento, a cirurgia é a principal e única modalidade para a maioria dos casos. Eventualmente, há a necessidade de se complementar a cirurgia com iodoterapia, com o objetivo de se eliminar células tumorais e tireoidianas residuais. Essa terapia pode ser repetida caso a doença reapareça. Nos poucos casos nos quais a doença se torna refratária ao iodo, utiliza-se a terapia-alvo, com medicamentos via oral. Radioterapia também pode ser empregada, em situações específicas”, diz De Marchi.
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