Estávamos no jardim eu, meus avós e a alegria espalhada no ar. A bola ia e vinha, como se fosse feita de risos e afeto. Até que, num desses passes cheios de amor, meu vô deu um chute firme, certeiro… a bola bateu no meu pé, voou alto e foi direto se encaixar num espinho, que mais parecia uma lança na copa de um coqueiro.
O estouro aconteceu dentro de mim.
Quando fui buscar a bola, vi aquele espinho enorme fincado nela. Um barulhinho quase imperceptível escapava enquanto ela murchava lentamente… e, junto com ela, meu mundo também esvaziava. Tudo ao meu redor parecia sem vida. Aquele instante de pura felicidade acabou por causa de um espinho.
Eu chorei. Chorei muito.
Não era só pela bola , era pela quebra da magia daquele momento simples e perfeito: meus avós brincando comigo numa tarde de outono.
Lá estava eu, chorando, olhando pro meu vô, meio sem jeito, tentando colar o estrago com fita adesiva, rindo pra disfarçar. Minha vó, do outro lado, me consolava e dizia com toda a fé do mundo que super bonder resolveria. Mas meu coração partido só conseguia chorar. Ela insistia que era só uma bola. Que o mais importante era termos brincado, rido, vivido aquele momento juntos. “Pior seria se fosse algo sério, algo que não tivesse como repor”, dizia ela com doçura, tentando me acalmar…
Foi ali que entendi:
a bola furou… mas o amor ficou inteiro.
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