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Domingo, 12 de Outubro de 2025

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OPINIÃ0 - DANIEL PEREIRA - A Queda de Dilma e o Nascimento do Algoz

E assim, o país que ouviu Bolsonaro gritar “pela memória de Carlos Alberto Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff!” assiste, anos depois, ao mesmo Bolsonaro sendo disciplinado pelo ministro que só chegou lá porque Dilma foi derrubada

Benê Barbosa
Por Benê Barbosa
OPINIÃ0 - DANIEL PEREIRA - A Queda de Dilma e o Nascimento do Algoz
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O Circo do Impeachment: Dilma Rousseff foi derrubada por um Congresso convertido em espetáculo grotesco, transmitido em rede nacional como se fosse entretenimento de auditório. Cada deputado subia à tribuna encenando um gladiador do moralismo barato, dedicando seu voto “à família, a Deus e até ao cachorro de estimação”. Então, surge Jair Bolsonaro, ainda um obscuro deputado do baixo clero, que aproveitou a ribalta para eternizar seu “sim” em nome do coronel Brilhante Ustra — o torturador da própria Dilma nos porões da ditadura. Foi o ápice da ignomínia: depor uma presidenta legítima sob os aplausos ensandecidos da barbárie.


A Ironia da História: Mas a história, essa velha cínica, não esquece. Ao destituírem Dilma, entregaram o país à interinidade vampiresca de Michel Temer. E foi Temer, espectro do MDB, quem nomeou para o Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O destino é irônico como uma tragédia grega encenada num picadeiro: ao som da dedicatória de Bolsonaro ao torturador, plantava-se a semente do seu próprio algoz.


O Algoz do Bolsonarismo: Anos depois, Moraes se tornaria a figura mais temida pela extrema-direita, impondo freios, investigações e decisões que reduziram o “mito” a mero réu. O mesmo Bolsonaro que saudava Ustra como herói descobriu, tarde demais, que o verdadeiro personagem de sua queda nasceu da farsa do impeachment.
A Justiça Poética: O golpe de 2016 não apenas mutilou a democracia e a economia brasileiras. Ele forjou, em sua engrenagem cínica, a ascensão daquele que hoje segura Bolsonaro pelo colarinho. A direita, que gargalhou no plenário ao destituir Dilma, agora se contorce sob a mão firme de Alexandre de Moraes — fruto amargo de sua própria conspiração.

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E assim, o país que ouviu Bolsonaro gritar “pela memória de Carlos Alberto Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff!” assiste, anos depois, ao mesmo Bolsonaro sendo disciplinado pelo ministro que só chegou lá porque Dilma foi derrubada. Ironia histórica? Não: justiça poética, com pitadas de sarcasmo divino. 
Daniel Pereira: advogado e ex-governador de Rondônia

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